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Conversas mostram atuação de capitão da PM em esquema de tráfico de armas para o BDM

 Conversas mostram atuação de capitão da PM em esquema de tráfico de armas para o BDM

Durante uma reportagem especial da TV Bahia nesta quinta-feira (18), algumas conversas interceptadas pela Polícia Federal e Ministério Público sobre um esquema de venda de armas para a facções criminosas foram divulgadas.

Vale lembrar, que o ex-subcomandante da 41a CIPM, o capitão da PM Mauro Grunfeld é principal suspeito de liderar o esquema. Informações obtidas pelo Bahia 190 é de que os suspeitos repassavam munições e armas que eram apreendidas durante abordagens em todo o estado, para a facção criminosa Bonde do Maluco (BDM).Segundo informações do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), Mauro Grunfeld era o principal remetente de dinheiro para Gleybson Calado do Nascimento, também policial militar da Bahia e apontado como um dos maiores operadores do esquema que movimentou quase R$ 10 milhões entre 2021 e 2023.Um documento sigiloso, obtido pela emissora afiliada da TV Globo, revela que entre 18 de fevereiro de 2021 e 13 de fevereiro de 2022, o capitão transferiu R$ 87.330,00 para Calado do Nascimento.

De acordo com a Polícia Federal, o modus operandi do grupo consistia em reter armamentos apreendidos em operações policiais. Ao invés de apresentar o material na delegacia, os suspeitos revendiam essas armas para organizações criminais.

Conversas

Em 26 de setembro de 2023, o capitão teria negociado com Gleybson. “Manda o pix”, escreveu. Em 29 de setembro do ano passado, outra conversa mostrou que Grunfeld também era vendedor. “Apareceu pedido de 5 cartelas de 7.65”, enviou o policial.

Já em 1º de outubro de 2023, uma nova conversa mostra Gleybson oferecendo um revólver a Grunfeld por R$ 4,5 mil. Outras conversas interceptadas ainda mostram atuação de capitão da PM-BA em esquema de tráfico de armas.

A investigação também aponta que essas armas e munições tinham destino específico: “criminosos faccionados que atuam no Bairro do Calabar, em Salvador”. O grupo responsável pela venda de entorpecentes no Calabar é comando pelo traficante Averaldinho.

Diante desses indícios, Grunfeld foi alvo de mandados de prisão preventiva e busca e apreensão na Academia da Polícia Militar, na Boa Viagem, e na residência. Uma pistola sem o devido registro foi encontrada na casa e com isso o militar recebeu voz de prisão em flagrante.

O capitão alegou que a arma foi adquirida de um policial civil e que a propriedade seria de outra agente, mas disse não saber informar nome ou lotação da servidora. Ele argumentou também que fez a compra porque precisava de defesa pessoal e policiais militares estariam com “dificuldades burocráticas” para obter o artefato.

Ostentação de Mauro Grunfeld

O militar trabalha há 17 anos na PM e relatou ter um salário fixo de R$ 8 mil. Como bens, declarou apenas ser proprietário de um apartamento, estimado em R$ 700 mil, e possuir R$ 20 mil no banco, em conta poupança.

Nas redes sociais, Grunfeld exibia fotos em iates, passeios em restaurantes caros e viagens a destinos turísticos badalados, como a Ilha de San Andrés, na Colômbia.

Flagrante revogado

Ao analisar o caso, a 26ª Promotoria de Justiça Criminal da Capital, área do MP-BA não vinculada à investigação principal, pontuou que “não há qualquer elemento probatório ou mesmo fático que aponte para eventual participação do custodiado em organização criminosa ou que reitere na prática de crimes”.

O órgão ponderou que o procedimento criminal está sob sigilo, o que impede os promotores de acessarem o conteúdo, sendo o juízo da Vara Criminal de Juazeiro o “único órgão julgador que detém o real conhecimento das imputações porventura irrogadas em desfavor do custodiado”. A partir dessas ponderações, em 21 de maio, o MP-BA se pronunciou pela liberdade provisória com pagamento de fiança.

No dia seguinte, na audiência de custódia, a Justiça acatou os argumentos e concedeu o benefício da provisória ao capitão. Mas a juíza em questão não expediu alvará de soltura para que fosse cumprido o mandado de prisão preventiva em aberto. Assim, na mesma data, a preventiva foi cumprida.